terça-feira, 14 de junho de 2011

Visceral.

Hoje, depois de conversarmos, lembrei de algo que eu havia dito a você:
- Que incrível! Nós gostamos das mesmas coisas; temos quase tudo em comum.
Ao recordar desse trecho de minha fala percebi a dimensão existencial e o peso sentimental de uma frase como essa. Ultrapassa as grandes profundezas da vida simbólica e material a qual estamos “pré-destinados” (pelos outros) a permanecer.
Acredito que encontros como esse não acontecem sempre para todas as pessoas. Ao contrário. São poucos o que obtêm da vida esse talento mágico para trilhar um caminho e, de vez em quando, encontrar, espontaneamente, “os seus’. Particularmente, assumo que nunca me engajei em lutas que não fossem minhas. Não me junto aos hippies nem aos moradores de rua por esse motivo, apesar de crer em muitas linhas “filosóficas” que alguns deles seguem. Contudo, sei que nasci com esse dom de encontrar na minha estrada seres ‘dos meus’. É raro pois além do dom, ainda necessitamos de mais um talento: ter a percepção suficientemente capaz e treinada para identificarmos ‘os nossos’ sempre que eles aparecem. Talvez você, nessa altura de sua vida, ainda não consiga compreender totalmente o que estou a lhe dizer, mas a verdade é que há muito tempo, aqui nesse interior sem fim e sem muitas possibilidades, aprendi sentir a presença (sempre que ela existe) de seres incrivelmente plenos e do bem como você. Sei tanto sobre isso que toda vez que eles aparecem fico em alerta e, também, percebo suas chegadas meses antes delas acontecerem.
Não vou aqui descrever em palavras o que senti quando o vi pela primeira vez, em meio há multidão, no intervalo – na Universidade. Porém, quero que saiba: foi algo não deste mundo ao qual os que governam – e são infinitamente diferentes de nós –, pregam como A VERDADE DAS COISAS E DOS SENTIMENTOS. Deu-se no mundo dos seres de sensação, inspiração, desejos, sensibilidade e verde – ah! sempre o verde há existir em meio a tudo isso.
Estar ao lado de seres parecidos conosco nos possibilita, ainda, o auto-conhecimento, elemento essencial para nossa constante melhora de nossa sensibilização a este Globo tão repleto de pesadelos impostos ao qual somos atirados todos os dias. Podes pensar que sou um idiota, bobo, cretino, pseudo-sentimental ou pseudo-qualquer-coisa por lhe escrever isto. Não me importo. Outros já receberam palavras como essas e não me deram a mínima importância por elas. Contudo, guardo-os, todos, comigo até hoje em um dos lugares mais bonitos que eu tenho em mim: construí um altar em minha memória e nela deixei as lembranças mais lindas de todos os seres extraordinários que encontrei em meus 23 anos de vida. Você já está lá. Não sairá nunca mais porque o altar só tem porta de entrada, a de saída eu esqueci de fazer quando construí as paredes que cercam esse altar... Outra verdade é que ele é mágico justamente porque dentro dele só há o que existe de mais puro nas pessoas que eu encontrei.
Muito obrigado por ter se achegado tão próximo de mim nessa fase de nossas vidas - onde percorremos loucos nossos anseios atuais. Estou gostando muito. Espero que dure; que nada atrapalhe; que tudo floresça e floresça e floresça. Afinal você mesmo diz em suas escritas: floressomos!
A maioria dos outros amigos que tive - assim como você – e que já passaram por minha vida, infelizmente, em algum momento, eles (ou eu) pegaram estradas diferentes e nos perdemos e o tempo se encarregou de recolher de nossa memória muitos sentimentos e emoções que nos uniam pelas lembranças. Não nos vemos mais. Não nos falamos mais. Não nos sentimos mais. Vagas lembranças, apenas vagas lembranças.
A outra parte, a parte menor, não precisou ser colocada em meu altar. Continuam comigo, todos eles, nos vemos e conversamos e somos os mesmos que sempre fomos. Quero que pertença a este grupo. Sinto que será assim. Que assim seja! Pois dessa maneira não estará apenas no altar que descrevi acima, estará num lugar ainda mais bonito. Um lugar que pelo significado que tem para mim eu ainda não consegui nomeá-lo ou defini-lo. Ele existe para que sua beleza seja apenas apreciada e admirada permanecendo sem o contato com mais nada e residindo, pela solidão, na sua pureza extrema e essencial.
Sou nesses dias, e por você, muito grato por essa energia de vida humanizada e sintetizada que se apoderou do que sou e que nem todos sentem como nós sentimos. É fascinante saber que existem pessoas que sentem a vida como ela se apresenta para mim. Muitas vezes andamos solitários, mascarados pelo medo de uma abertura interior seguida de uma não-compreensão externa. Não me sinto assim quando estou na sua companhia. Com quantos outros eu poderia abraçar uma árvore sem parecer alguém excêntrico ou louco? Vemos beleza no pequeno, no natural, no olhar e na alma.
Contudo, entretanto, todavia e porém quero conseguir ler essa frase de Caio Fernando Abreu daqui 20 anos, lembrar de nossa amizade e sentir que ela – a frase – é real:
“O que é verdadeiro permanece”.
Não quero sentir, daqui alguns anos, na minha alma sua falta silenciosa a esbravejar em minha vida na forma de tristeza. Então, permaneça, por favor.
13/junho/2011.
Anderson.

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
(Pessoa)

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